Uma tarde meio nublada, do lado esquerdo da rua, era um salão, pequeno e modesto, as coisas estavam meio espalhadas (mas de uma forma estratégica), as cadeiras, de um azul com cara de enferrujado (próprio dos forros que precisam ser lavados), me deram um certo receio de estar ali sentada. Pelas paredes, folhas de revista, recortadas, coladas e descoradas, com belos modelos, que pareciam figuras em decadência, levando-se em conta o ambiente que povoavam. Comigo, eram quatro, sendo que eu só observava atentamente, enquanto duas trabalhavam e uma outra estava sentada, enquanto repartiam-lhe o cabelo. A que estava sentada era uma moça de pele morena, gordinha, mas simpática, de cabelo ruim, daqueles bem embaraçados, e havia química neles, da mais mal aplicada e ordinária que se possa imaginar (as manchas foram surgindo enquanto o secador e a escova trabalhavam duro). Era um cabelo curto, mas bastante maltratado.
E a “escova” começou. Fiquei atenta observando...A cabeleireira não teve muito trabalho com as primeiras mechas (que sempre são as da nuca e os melhores fios), mas logo senti que estava travando uma batalha com aquela cabeleira ressecada e feia. O cabelo era escuro e estava mal repleto de “luzes” mal feitas, cheias de falhas, de um loiro indefinido, apagado, vagabundo. Enquanto aquela juba era “alisada”, eu me divertia por dentro pensando comigo: “Como pode essa mulher dizer que sabe alisar um cabelo, e pior, como pode essa outra achar que vai sair daqui melhor do que entrara, se essa cabeleira rebelde insiste em mais parecer um ninho de pássaros, e quanto mais se “alisa” mais estranho fica?...”
Ato contínuo, ao pegar as mechas do meio da cabeça, o inconcebível atingiu o ápice, pois aquele cabelo era realmente o mais ressecado e ali se demonstrou, por provas, que a cabeleireira também não era das boas. Das mechas que eram secas, emanava um cheio nauseabundo de shampoo barato, daqueles que se compra aos galões, mas mesmo diante daquilo eu me divertia vendo “o circo dos horrores” representado naquela cabeça.
Sem mais delongas, a “escova” ia seguindo com bastante sacrifício, tive mesmo a impressão de que Dona Jura (a cabeleireira), por muitas vezes, pensou consigo mesma: “O que farei para amansar essa juba desgrenhada???” (e desesperada – pelas caras que fazia) . O fato é que Dona Jura não estava sabendo desempenhar as funções às quais se propunha e tive pena dela...Mas as últimas esperanças estavam sendo depositadas na “chapinha”, se ela (o verdadeiro ferro de passar e amansar cabelos) não resolvesse, podia entregar a Deus, que nada mais o faria.
Nisso, a ajudante de Dona Jura veio me atender, fazer minhas unhas, então sentei-me mais comodamente e continuei a observar.
Dona Jura já havia terminado sua batalha, e suas armas – o secador e as escovas, já descansavam ao lado, enquanto ela se munia da chapa, arma mais poderosa da qual Dona Jura poderia lançar mão. Sacou de um pente fino e começou a “passar ferro” no cabelo. Mecha por mecha, percebia-se que a rebeldia dos fios cedia um pouco, mas quanto mais seco o cabelo ficava, mas evidente era seu maltrato, a ressequidão, aquelas mechas claras e horríveis e mal feitas (era realmente feio de ver). Por fim, Dona Jura terminou, decerto, a mais dura batalha que precisou travar naquele dia – nem digo alisar, mas amansar a todo custo (e ainda com todas as limitações que se mostraram evidentes e não poderiam ser próprias de uma cabeleireira) aquela cabeça de cabelos castigados e mal cuidados. A chapinha estava pronta, o cabelo mal domado e feio – nem vou me dar ao trabalho de escolher uma melhor palavra para descrevê-lo, pois “feio” o faz bem...
Se vaidade for sair do salão pior do que houvera entrado, acho que não sou uma mulher vaidosa...
domingo, outubro 08, 2006
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1 comentários:
Oiiii loira! Nossa vc é uma boa observadora hein! rsss descreveu mto bem o lugar e a situação, parecia eu olhando a pobre gordinha e a dona Jura desesperada! hahaha... queria ter visto o resultado final! Bjokasss loira.
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