domingo, março 15, 2009

Desde que Otar partiu...



Aos costumes (como diria Pedro Bial)...
Bom, só para satisfazer a curiosidade da Lu: desde a última vez que escrevi algo aqui - e isso foi por ocasião do carnaval, ou coisa assim - a vida continuou seguindo. Algumas coisas aconteceram, outras não.

Flávio Augusto, de passagem (inesperada) pelo Brasil, surgiu na porta de minha residência, num dia do meio da semana, ou melhor, numa noite despretensiosa, sem mandar aviso, nem nada. Eu tinha acabado de ver novela e BBB, estava passeando com o controle remoto, acima e abaixo, quando parei num desenho animado. A cabeça envolvida numa toalha, e o corpo vestido com uma daquelas mudas de roupa já rejeitadas pelas traças, quando a campainha me toca. Achei que era uma dessas pessoas que tocam e saem correndo, e quando olho pra baixo, quase fui vítima de um ataque cardíaco, fiquei em estado de choque e mal sabia se deveria assobiar ou chupar cana. Depois de resolver uns pequenos contratempos, desci para atendê-lo, de turbante e tudo. Esta foi apenas uma das situações que só acontece comigo...

Depois disso, por recomendação da Lu, assisti a "Sangue Negro". Minha filha, que coisa hein? Fiquei umas 3hs diante da tela, em alguns momentos a paciência quis me faltar, mas algo maior me prendia por ali: a necessidade de saber o desfecho da trama. Abstenho-me de fazer qualquer menção ao filme, demasiado comprido, só posso adiantar que não foi realmente a troco de nada sua indicação ao Oscar (se bem que evito filmes premiados por esta academia, mas neste caso, preciso tirar o chapéu não apenas para a história, mas sobretudo, pela atuação do cara que cava os poços - e aqui peço perdão pela minha "ignorância", mas sou realmente péssima na arte de gravar nome de ator).

E os dias foram se passando, daqui há 2 semanas será preciso renovar meu treino (aquele mesmo o qual já foi citado aqui, com post ilustrado pelo meu garboso teacher e tudo). Recorri à balança para verificar meu peso apenas de uma feita e constatei a perda de mais de 1,5kg, depois disso, preferi me controlar; vou aguardar mais uns dias para fazer nova pesagem, pois, de qualquer forma, a exemplo do que ouvi num desses comerciais de TV feministas por ai:"A unidade de medida da mulher não é a balança, mas sim, sua calça jeans.", afirmação que assino embaixo.

Ato contínuo, antes que eu me perca em devaneios (o que não seria muito difícil), quero comentar e indicar um filme a que assisti neste final de semana. Trata-se de "Desde que Otar partiu". Visitei a locadora sem muitas pretensões e sem nada em mente, normalmente faço uma pesquisa na internet antes que perder horas fuçando prateleiras em vão. Sai de casa apressada e não tive como realizar minha pesquisa habitual; o resultado foi a locação de 3 filmes, sendo que 2 deles eu teria jogado no lixo com gosto, não fosse pelo fato de não me pertencerem. Fiquei abismada e pensei comigo mesma: "Deve realmente existir muito dinheiro no mundo, caso contrário, acredito que não gastariam sequer 1 lira turca (moeda mais desvalorizada do mundo) produzindo umas porcarias desse nível." (Pensei isso enquanto segurava nas mãos, fitando com desolado olhar os filmes de suspense dos quais sequer lembro o nome).

Como em meio a toda safra ruim existe algo bacana, sob um lampejo de genialidade, escolhi o filme que emprestou nome ao post de hoje.
Trata-se da história de um núcleo familiar composto por avó, mãe e neta, residentes na capital da Geórgia. Alguém aqui sabe algo sobre a Geórgia? A Geórgia é um pais cuja posição é estratégica, a exemplo da Turquia. Ele está localizado entre a Europa e a Ásia e faz divisa com a Rússia - país contra quem protagoniza conflitos desde outrora. Sempre aqueles malditos conflitos de ordem político-étnico-religiosa. No caso da Geórgia, existe um agravante; por estar localizado numa posição estratégica, interessa à Rússia manter o controle sobre territórios que abrigam gasodutos e oleodutos. Enfim...em razão desses conflitos, a Geórgia é uma economia frágil e arrasada. Na época do filme, por exemplo, frequentemente ocorria falta de luz e água; incidentes provocados pela situação instável do país.

Ocorre que, à família a qual me referi acima pertencia Otar. Filho da senhorinha que ilustra o post, que contava com 88 anos à época da gravação.
Otar, médico em busca de melhores condições, parte para Paris, onde trabalha na construção civil. De lá, comunica-se com sua devotada e carinhosa mãe por meio de telefonemas e cartas.
A situação para os imigrantes, como sempre, não é facil, mas mesmo assim, Otar, quando pode, envia algum dinheiro à família, que vive numa casa escura, cheia de quinquilharias, de forma modesta.
Os telefonemas de Otar são aguardados com grande ansiedade por sua sua mãe e ela fica muito feliz quando recebe notícias suas.
Acontece que, a certa altura, Otar é vitimado por um acidente de trabalho e acaba por falecer. Sua irmã e sobrinha, consternadas, e preocupadas em poupar a velha, relutam em deixá-la a par da tragédia e decidem por omití-la, enredando um teatro que consiste em continuar enviando cartas falsas que chegariam tendo Otar por destinatário.

Tenho que abrir um parênteses aqui para comentar que andei lendo umas críticas ao filme, internet afora, e fico abismada com o azedume desses que se rotulam de críticos, ô povinho mais infeliz! Acham defeito em tudo, nada para eles é bacana, nada sensibiliza ou surpreende, nenhuma história traz atrativos ou originalidade. Li coisas semelhantes a respeito do filme em questão e prontamente releguei-as ao esquecimento, pois, como eu disse, são produto de humores azedos.

Confesso que em alguns momentos do filme, meus olhos marejaram. Não tive como não me sensibilizar com o empenho daquela velhinha - ludibriada por sua filha e neta - em rever novamente seu filho amado. Ela vende todos os pertences para adquirir as passagens que levarão as 3 personagens à Paris, e lá, de uma forma que eu não esperava, irá descobrir que esteve no encalço de um filho há meses falecido.

Mas antes disso, palmas e mais palmas para uma das cenas ápice do filme. A velhinha encurvada tem 88 anos, mas numa ocasião em que sua filha e neta se ausentam, ela, num ato de traquinagem, sai para passear, vai até um parque de diversão e monta na roda gigante, devidamente munida de seu cigarrinho e fica por alí, como que aproveitando aquela brecha para "viver". Pena que não consegui uma foto da cena, pois é impagável!

Não vou contar mais sobre o filme, quem quiser que assista, porque vale a pena, mas gostaria de fazer menção especial aos "extras" - que dificilmente assisto. Neste caso, tive a curiosidade. Esta senhorinha que faz a mãe de Otar, puxa, dá vontade de levar ela pra casa, um doce de velhinha; me sensibilizou quando corria para atender o telefone, acreditando ser uma chamada do filho (finado), quando lançava aqueles olhares que só as boas velhinhas tem, quando defendia os pertences do filho, impedindo que alguém os tocasse, enfim...Mas, voltando às curiosidade sobre a senhorinha, à época do filme, fazia apenas 5 anos que havia iniciado as atividades como atriz, e sobre a cena da roda gigante (já mencionada), foi uma dificuldade para a diretora convencê-la a fazer, pois ela tinha medo. Por fim, acabou cedendo e até curtiu a brincadeira; segundo o relato da diretora, filmaram a valer o giro na roda gigante com a bituqinha de cigarro na boca.

Bom, já escrevi o bastante, e só o fiz empolgada em passar adiante sobre este filme, porque coisa boa, a gente precisa compartilhar.
Queria ter incluido no post a música de Florent Marchet, um artista francês que descobri por ai, mas infelizmente o Deezer já não é mais o mesmo e grande parte do conteúdo foi bloqueado; uma pena...mas, para quem tiver curiosidade, é uma ótima dica.