Lembrei-me ainda estes dias:
Eu estudava a tarde, cursava os primeiros anos escolares.
A escola ficava ha uns 200m de casa, e era recem construida.
Recordo que era costume brincar de "vivo e morto" e fazer pickniques; eu levava uma quantidade absurda de guloseimas, biscoitos recheados (que hoje nao como nem por um decreto), iougurte, balas, essas coisas aporrinhadas, "puxadas" no doce, que fascinam as criancas e lhes destroem a dentadura (nao que eu nao as ofereça aos meus sobrinhos), chicletes que grudavam nos cabelos, inclusive nos meus - ocasioes desafortunadas onde eu me debatia ora com a crina, ora com a borracha grudenta, que sabe-se la por qual bocal infantil havia passeado...
Nao recordo o nome da professorinha, mas sei bem que eu era colega de uma menina magrinha, de cabelo curtinho, a Janaina, que so tinha um defeto: era paquerada pelo Andre, sendo que este ultimo era objeto de minha paquera. Ou seja, eu gostava do Andre, que gostava da Janaina, historia que, ironicamente, se reproduz na vida humana ja desde a tenra infancia - oh ceus!
Eu cria que Andre era lindo, o pirralho mais bem apessoado daquelas bandas, porem, a excecao de seu bom humor, desconfio que ele deva ter crescido baixinho e sem pescoco..e eu divago...
So sei que, pelos idos de 80 e la vai pedrada, era febre uma tal borracha bem bonitinha, mas nada pratica; quando friccionada contra o papel, produzia um borrao medonho, nunca apagou nem os tracos do lapis mais vagabundo.
As mal aventuradas borrachas decorativas, nao raro, exalavam aroma de fruta e continham figuras infantis, de bichinhos ou personagens de desenho animado, e eu olhava de soslaio para as dos coleguinhas. Até tinha as minhas, mas por obra e arte de um encosto zombeteiro, certa feita, com uma canetinha, tomei uma das borrachas de Janaina, a musa inspiradora de Andre (meu muso inspirador) e comecei a contornar a linda figura de um coelhinho. Tarefa concluida, com a tinta ainda umida, fiz uma especie de transplante para enfeitar o meu caderno com as formas do pequeno mamifero orelhudo.
Para minha satisfacao, fiquei com o caderno carimbado, porem, para meu desespero, o desenho do bicho havia sumido da borracha (com certeza, os chineses ja estavam entre nos).
Meu coracao acelerou em disparada, e Janaina, ao notar o que havia acontecido, pos-se a lacrimejar inconformada e inconsolavel, choramingando meu nome em som mais alto do que julguei ser adequado (desde criança eu prezava pela discrição).
Senti um remorso tamanho, porem, fizera sem qualquer intencao malefica, embora hoje eu desconfie do meu subconsciente trabalhando em segundo plano, de forma ardilosa, para vingar-se daquela que era o sonho do homem dos meus sonhos...Dificl ter 9, 10 anos, as paixoes sao incontrolaveis e a gente pode ser cruel com os amiguinhos...
Em tempo: Fiquei desesperada quando vi o banzé armado, aquela menina chorando e a professora vindo tomar conhecimento do ocorrido. Meu pai me buscava na escola e me borrei ao imaginar a "tia" fazendo reclamações a respeito de meu comportamento; sobrar pra mim não seria boa coisa.
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