terça-feira, fevereiro 24, 2009

Assunto reincidente - Índia, ou melhor, o Bapu da Índia




"My God!" - essa é uma expressão comumente utilizada no escritório onde trabalho, até por mim, claro. Hoje, ela expressa meu desespero diante da responsabilidade de escrever este post, pq tô com 1.999 coisas em mente e me desnorteia a necessidade de pô-las em ordem. Mas, let´s go!

Embebida pelo clima de carnaval e Oscar, é claro que minha primeira parada seria a locadora. E fui...Achei algumas poucas coisas e só tenho filmes A NÃO INDICAR, com exceção de um.

A locadora estava depenada; ou não tinha os títulos que eu procurava, ou estavam locados - uma miséria.

Por fim, parei numa prateleira que continha filmes premiados em outras ocasiões - abro parênteses aqui para ratificar que não cultivo o hábito de locar filmes ganhadores de Oscar, porque nem sempre são os melhores, acho que é até um pouco de preconceito - e, de pronto, meus olhos bateram em "Gandhi". Nem preciso emprestar a expressão da Lu: "feliz que nem pinto no lixo". Eu nem gosto dessas coisas de Gandhi, de Índia e afins, né? Foi a festa! Eu sequer tinha ouvido falar que havia um filme "biográfico" sobre Gandhi, talvez pelo fato de que este, data de 1983, ocasião em que nem de desenho animado eu entendia.

Quanto ao filme, recebeu mais de meia dúzia de estatuetas, incluindo a de melhor ator para um cara muito semelhante ao prório Gandhi.
Confesso que achei um filme um pouco cansativo; dura os incríveis mais de 180 minutos, motivo pelo qual tive que assistí-lo em 3 prestações, e abolir o uso do sofá. Sempre que deito na poltrona pra assistir, o sono me cai como luva, portanto, quando preciso realmente prestar atenção em algo, ligo a tela do pc, acomodo-me em posição "politicamente correta" e passo a processar as informações adequadamente.

Por fim, concluí que mesmo 180 minutos de filme é quase nada no intuito de contar a história de Gandhi, claro que ali devem ter sido compreendidos apenas os fatos mais relevantes, mas tive a impressão de que muitos aspectos da vida de "Bapu" - como era chamado - foram negligenciados. Eu e essa maldita mania de detalhes, de querer saber das coisas triviais ou até das amenidades. Sem falar que, fiquei o tempo todo na expectativa de que durante o filme se descortinassem imagens e informações sobre a Índia e seu povo; ledo engano. A fotografia do filme é boa, e em muitas passagens, enquanto Gandhi percorria o interior de seu país, tive a impressão de estar vendo quadros familiares (acho que todo interior tem lá suas coisas em comum).

Mas, vamos voltar o foco para Gandhi, pois minha intenção não é contar o filme, mas fazer um "pobre" relato de sua história.
Sempre tive admiração por este homem e pela tolerância que ele demonstrou, pela resignação em resistir pacificamente. Mas cabe aqui ressaltar que trataram-se de uma resignação e tolerância em nada passivas. A estratégia de Gandhi consistia em não reagir da forma mais fácil e mais impulsiva, ou seja, dar o troco de forma pragmática. Cabe aqui um outro parênteses : Senhorita Mônica, acho que o horóscopo contém falhas, uma vez que minha filosofia de vida é baseada na antiga Lei de Talião. Sendo Gandhi um libriano, é notório que ele agia de forma totalmente contrária a mim ao afirmar que "olho por olho e o mundo acabará cego." Puxa vida, que banho de sabedoria seria ter tido o privilégio de conviver à mesma época que esse homem e próximo a ele...

Contam os relatos que Gandhi vinha de uma família abastada. Como é sabido, entre os hindus, existe um sistema de castas (abolido por lei, mas que na prática ainda vigora), se você for pesquisar no Google, talvez encontre informações divergentes sobre a casta a qual pertencia Gandhi, pois eu mesma já li que ele era brâmane e em outra fonte, diziam que sua família praticava o comércio...enfim, o fato é que seu pai era envolvido com política e na pretensão de que seu filho seguisse os mesmos passos, enviou Gandhi à Inglaterra para aprender o ofício da advocacia. Mas, antes disso, aos 13 anos, Gandhi se casou com uma moça da mesma idade.
Estudos concluídos, Gandhi retorna à Índia, porém, lá não permanecendo. Muda-se para a África do Sul (também colônia inglesa), e como é sabido, povoada por brancos. Diz-se que até então, Gandhi não tinha a consciência politico-social que veio a demonstrar mais tarde e que o tornou figura tão notória. Segundo os relatos, foi na África do Sul que houve esse "despertar" de Gandhi, mais especialmente, numa ocasião em que ele viajava de trem na 1ª classe, quando foi convidado (devido à sua cor, tipica dos hindus), a locomover-se até até a 3ª classe, caso contrário, seria atirado para fora do veículo; e assim foi feito.

Depois disso, Gandhi retorna à Índia, onde toma conhecimento das reais condições em que viviam seus compatriotas e passa a empreender viagens pelo interior do país, sempre discursando em favor da libertação, através da resistência e luta, por meios não violentos, o que o torna cada vez mais conhecido e respeitado.

A esta altura, Índia era colônia inglesa, assim como já o fomos de Portugal. Como de costume, as metrópoles exploram as colônias extraindo destas suas riquezas e produtos naturais, transformando-os em manufatura, que é revendida às próprias colônias a preços absurdos. A Índia, desde então, passava por um período difícil, os agricultores eram explorados de tal forma que praticamente não tinham do que sobreviver, pagavam aluguel das terras aos ingleses, aluguéis cada vez mais caros, em contrapartida aos preços pagos pelo que nas terras era produzido. À mesma época, comprava-se tecidos produzidos na Inglaterra e até mesmo o sal tinham que consumir de seus colonizadores.

Conflitos intensificaram-se, pessoas foram mortas e quando isso ocorria, Gandhi iniciava seus jejuns, contrariado pela atitude do seu povo, pois incitava-os a lutar pela liberdade, mas repudiava mortes e violênica. E em jejum permanecia, até que seu povo voltasse a agir pacificamente.

Enfim, durante toda sua vida, por se mostrar um líder ao qual as multidões respeitavam e seguiam, Gandhi foi preso em diversas ocasiões, e em diversas ocasiões também jejuou, em protesto contra os atos de violência.

Para libertar-se da condição de colônia, Gandhi convocava seu povo a paralisar todas as atividades, numa espécie de "greve", protestava contra os altos impostos, promovia o boicote aos produtos industrializados, vindos da Inglaterra - existindo uma ocasião em que convidou todos os reunidos num de seus discursos, a acenderem uma grande fogueira onde seriam lançadas as roupas fabricadas na metrópole, enfim...Gandhi lutava para conseguir a liberdade de seu país por meios alternativos, nunca usando a força bruta, buscando a desocupação inglesa de forma amigável.

Nesse meio tempo, articulado, estreitou relações com os homens que futuramente, viriam a ser os membros do Congresso naquele país, e com eles, continuou, ainda que muitas vezes, de dentro dos presídios, a conduzir sua nação a caminho da liberdade, tendo sempre ao lado sua fiel e companheira esposa, tão politizada quanto ele, que inclusive, também discursava ao seu lado.

Com o desenrolar dos fatos, a crescente popularidade de Gandhi, a mobilização popular que ele conseguia, e devido à incapacidade da Inglaterra em continuar mantendo o domínio sobre um país tão vasto quanto à Índia - à época da 2ª Guerra Mundial, a transição para a liberdade, inevitável, acabou por ocorrer.
Gandhi foi convidado a ir à Inglaterra, para discutir os termos da independência do seu país e lá esteve com monarcas londrinos e até com Charles Chaplin.

Mas, como é de se esperar, há sempre um porém em todas as histórias e nessa, existiram dois:-

1º) A Índia, antes UMA NAÇÃO lutando para se livrar das garras inglesas, agora se via em meio a conflitos de natureza interna; a minoria muçulmana reclamava para si um território, onde seria o Paquistão. Mais mortes ocorreram, e Gandhi, já velho e debilitado, caiu em novo jejum até que hindus e muçulmanos resolvessem por se entender - como povos irmãos que deveriam ser - e findassem praticando a filosofia pregada por seu "bapu" durante toda sua trajetória: A NÃO VIOLÊNCIA.

Algum tempo depois, cessados os conflitos internos, Gandhi diz algo mais ou menos assim: "é bobagem que os conflitos cessem apenas para evitar a morte de um velho", porque afinal, as duas etnias haviam entrado em trégua apenas a fim de que Gandhi também cessasse o jejum. Entendi com isso, que Gandhi, em sua sabedoria, e entristecido por isso, tinha a consciência de que as pessoas haviam hasteado bandeira branca, mas pelos motivos errados. Eles não assimilaram o maior ensinamento do seu mestre...Aquilo era apenas uma solução paliativa, e Gandhi sabia disso...

2º) Poucos dias após o fim do último jejum de Gandhi, quando o mesmo se preparava para ter com seu povo, um militante hindu, infiltrado na multidão, assassinou-o com alguns tiros; e suas últimas palavras foram: "Oh My God!"

E assim, apagou-se o brilho da vida de um homem, que até hoje, mantém sua chama póstuma.

O assassino de Gandhi alega ter tirado sua vida devido às concessões feitas aos muçulmanos, por ocasição da criação de seu Estado, o Paquistão.
O elemento foi julgado e condenado à execução, mas nenhuma execução sequer viria a recompensar a perda de tão grandiosa alma. Perdeu-se Gandhi, mas sobretudo, perdeu-se, esvaiu-se, dentre seu próprio povo, a filosofia pela qual Gandhi deu a vida e suportou, com resignação, todas as provas a que foi submetido. Ah, e até hoje, hindus e muçulmanos, "vez em quando" voltam a se engalfinhar...

A ilustração do post de hoje vem a retratar algo improvável; jamais, em vida, Gandhi calçaria um tênis importado, chega até a ser um pecado!

O episódio de que trata essa propaganda, é a marcha do sal. Todo esse percurso mencionado, Gandhi desenvolveu à pé, durante o qual, multidões a ele se aglutinaram, até que atingiram o litoral do país, e lá, à beira do mar, "fabricaram seu próprio sal", atividade proibida pelas autoridades inglesas. Como consequência dessa desobediência civil, Gandhi, como de costume, foi recolhido à prisão, e um sem número de indianos sofreu, sem revidar, agressões físicas por parte dos soldados a serviço da coroa britânica - uma covardia que maculou mundo afora a imagem dos ingleses e contribuiu, em muito, para obtenção da liberdade indiana.

5 comentários:

Lou disse...

Aleluia, atualizou isso aqui e até mudou o layout pra esse café simpático! Gostei.
A sabedoria de Gandhi é mesmo impressionante. Foi, sem dúvida, um líder importantíssimo... Pena que algumas coisas, como ele próprio percebeu, não dependiam só da vontade dele.
Eu também não sabia que tinha um filme sobre ele, nem que ganhou tantos Oscar.
Quanto ao filme ser grande, paciência. Às vezes é o preço que a gente precisa pagar pra assistir algo que realmente preste!
Beijos e veja se não deixa o blog ficar jogado às traças por tanto tempo.

Mônica disse...

Adorei a cara nova do blog.

Tb gostei de saber mais um pouco da história de Gandhi, pois sei muito pouco. Em diferentes épocas surgiram pessoas que tentaram ensinar coisas grandiosas aos homens, mas como são cegos e cheios de si, muito pouco se conseguiu. Quem sabe um dia, né?

Qto a Gandhi ser de libra, acredito que pessoas como ele estão acima dessas coisas. Isso se aplica apenas a meros mortais, como nós e mesmo assim, não é regra geral.

Bjs

Kat disse...

Oi florzinha sou de BH.. então a Lou é daqui tb? Nem sabia!
Muito interessante a história de Gandhi, vou pegar esse filme pra ver!

beijinhos

Lou disse...

Eita!
Bora atualizar isso aqui!

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado