domingo, outubro 22, 2006


Loquei uns filmes, e os lançamentos estão “pela hora da morte”, pois acho um absurdo gastar semanalmente a quantia em média de R$ 30,00 com esse tipo de lazer, mas, discussões de ordem econômico/financeira para outra ocasião. Mean Creek, eis o título do filme que mais me agradou. Explico: - Trata-se da história de uma pequena vingança. George é um garoto gordo, problemático e repetente na escola, que tem o hábito de ser agressivo com os colegas. Logo no início, ele agride o irmão do Macauly Culkin (é, um pequeno garoto parecidíssimo com o pirralho de “Esqueceram de Mim” é um dos protagonistas, e na verdade, irmão do dito cujo). Sam, a vítima, conta para o irmão mais velho e assim, juntamente com os amigos deste, planejam uma vingança contra o gordinho histérico, que consiste em ludibriá-lo e a troco de participar dos festejos por ocasião do aniversário de Sam, convencê-lo a acompanhá-los num passeio de barco (no qual a vingança seria posta em prática). George (o gordinho),é convencido facilmente e até oferece uma pistola d´água de presente para Sam (pois trata-se do seu aniversário). Acontece que durante o passeio, o gordinho se mostra até amigável e digno de piedade, pois não passa de um bobalhão com dificuldades de aprendizado. Bom, no decorrer da história, descobre-se que um dos garotos é criado por um casal de homossexuais (motivo suficiente para servir de troça e piadinhas), e que o pai do amigo mais velho do irmão de Sam era um bêbado suicida, provável motivo de amargura e rebeldia do rapaz. Na verdade, o filme parece uma história boba de crianças que vão passear, mas não, é o retrato da perda da inocência, do momento onde se deixa de ser criança pra assumir responsabilidades e consequências, inclusive cheguei a ler críticas internet afora que apenas contribuíram pra aumentar o meu desprezo por essas pessoas que não abrem as mentes às possibilidades, carentes de sensibilidade, acostumadas ao cinema caro e fabuloso de Hollywood. Mean Creek é uma produção barata, um filme alternativo, e um ótimo filme em se tratando de cinema americano. Crítica de cinema, claro que não sou, apenas me acomodo na poltrona disposta a ver com olhos além desses que estão pregados na cara, eu procuro perceber a verdade estampada nas faces dos atores, o modo como a continuidade do filme flui, os olhares que convencem, as caras e bocas que conseguem me comover e até fazer com que eu derrame algumas lágrimas, fique chocada com a brutalidade ou admirada com a sensibilidade das pessoas. Mean Creek é um filme bobo? Jamais, quem escreveu tamanha besteira não tem a mesma percepção de cinema que eu, que diante da tela, busco transcender a realidade, imaginar situações, compreender aqueles mundos que se abrem, procuro sentir o drama como se eu mesma fosse parte sua, e esse filme conseguiu extrair tudo isso de mim. Eu não posso contar mais detalhes sobre o filme, à exceção de que a trilha sonora é excelente, e de quebra, conheci o trabalho dos Gold Brothers, cujas canções enriquecem ainda mais o conjunto composto pelas ótimas interpretações. http://www.ethangold.com/mp3s.html ; eis aqui o link para “Our love is beautiful”, uma das músicas mais legais da trilha. Resumindo, é um filme premiado (Seleção Oficial do Festival de Cinema de Cannes e Seleção Oficial do Festival de Cinema de Sundance), merecida e indiscutivelmente.
“Sob a superfície, todo mundo tem um segredo”, eis a proposta estampada na capa do DVD, cujo título em português é Pacto Maldito (que em nada tem a ver com a história). A você, caro leitor, recomendo!

sexta-feira, outubro 13, 2006

Charlize - o monstro

...Na verdade, estava em busca de alguma imagem que me despertasse simpatia tal que seria a ilustração do próximo post (este, que eu não saberia dizer quando seria finalizado), e na minha procura, encontrei imagens de belas mulheres, no entanto, desfiguradas pelo fotoshop (era um site de montagens) que lhes havia transformado em deprimentes anoréxicas, mas mesmo assim, ainda permaneciam belas. Destaque para Charlize Theron; fiquei ali por alguns minutos observando as feições da atriz, e me perguntei: “Como pode ser tão bela?”. “Doce Novembro”, eis a primeira oportunidade em que prestei atenção à beleza de Charlize, desde então, ouvi críticas positivas a respeito de sua atuação como atriz, e dia desses, garimpando na locadora, achei um tal de “Monster – desejo assassino”, que dizia trazer Charlize no elenco. Procurei por ela (capa e contra-capa), e nada! Pensei comigo: “Mas cadê ela?”, e mesmo já durante o adiantado do filme eu custava a creditar que aquele ser do sexo feminino, desajeitado, de modos rudes, desfigurado e maltratado pela vida era a atriz de beleza hipnotizante. [Charlize sofreu verdadeira metamorfose ao compor o personagem, engordou 14 kilos – irreconhecível]. Monster baseia-se na história verídica da primeira serial killer norte-americana, morta em 2002, após passar 13 anos no corredor da morte. O filme é denso, nele Charlize interpreta uma prostituta que acaba se envolvendo e criando vínculo com uma lésbica, quando está prestes a dar cabo da vida medíocre e sem perspectivas, e para prover a companheira (mais jovem e desempregada), ela continua se prostituindo, mais que isso, passa a assassinar os “clientes”, logo depois que um deles a agride fisicamente (pra ser franca, preciso assistir novamente esse ótimo filme, visto que minha memória já começa a falhar). O fato é que embora Aileen (Theron) seja criminosa, não a julguei como uma, eu sentia o drama da mulher, à margem das oportunidades, que procurava sobreviver como podia, apesar das adversidades. Há uma passagem onde ela procura a redenção, ao arriscar encontrar um emprego “decente”, mas em vão, pois trata-se de um tipo estranho e sobretudo, não dispõe de nenhuma experiência, e com isso, Aileen é obrigada a voltar a vender seu corpo. Ah!! E antes que eu esqueça, a trilha sonora do filme é um capítulo à parte, as músicas foram muito bem escolhidas e são de extremo bom gosto (pelo menos pra mim, que há muito já as tenho – bendito Soulseek). Bom, esse post bem que merecia uma figura da linda e talentosa Charlize, mas não...decidi-me por não incluir fotos, pelo menos por hoje, pois, aleatoriamente, o WinAmp acabou tocando algo que me fez bem ouvir, essa música é muito bacana, de uma banda alemã, até então desconhecida minha - Wolfsheim, fala sobre uma cegueira, não necessariamente a cegueira da escuridão dos olhos, mas a cegueira como estado de escuridão da mente, e isso me remeteu a “Ensaio sobre a Cegueira” do Saramago, um dos meus prediletos...É isso!

segunda-feira, outubro 09, 2006

O comentário do comentário

Cultivo o hábito de visitar algumas páginas de cunho informativo (já que não acompanho com freqüência os jornais) e numa dessas, devido ao layout amigável do G1, acabei me afeiçoando ao site. Surpresa minha ao constatar dia desses que o Zeca Camargo, então apresentador do Fantástico, havia estreado um blog; claro que (por curiosidade), corri ler o que seria fruto das mãos de um jornalista até que bem simpático e informado (pelo menos até então). Confesso que apesar de bem escritos, os textos não despertaram em mim nada de extraordinário, são textos bem escritos, e vale a pena lê-los, haja vista a quantidade de besteira que se é obrigado a engolir nessa tal de internet (às vezes tenho medo de consumir tanto absurdo e começar a me familiarizar com eles – Deus me livre e guarde!). Mas, continuando, além de ler o Zeca, acabo dando uma olhada nos comentários do pessoal e notei que alguns revoltosos têm se insurgido e se mostrado insatisfeitos (ou seria o caso de terem interpretado mal os bem escritos do Zeca?), e nisso vêm acusando o jornalista em questão de pretensão em demasia. Como eu mesma frisei em meus comentários ao blog, desconheço o Zeca/pessoa e não disponho de argumentos para taxá-lo dessa forma tão hostil, mas não pude deixar de tecer minhas ponderações. Seguem os meus comentários (foram escritos no calor dos fatos e portanto, são informais) :-

Olá, Zeca, terceira vez que comento aqui (estou adquirindo o hábito de acompanhar o seu blog). Seguinte:- você se diz decepcionado com o fato dos parcos comentários sobre o livro que andou indicando, mas também pudera, você pincelou o livro e ficou girando em torno do Foguinho, ele se tornou um protagonista do seu texto. Você deveria ter dado ênfase ao livro, ter falado mais dele, ter se aprofundado, a fim de instigar a curiosidade dos leitores. Tudo bem, "você é novo no pedaço", quando estiver escrevendo, imagine-se como um leitor, perceba se o que você escreve realmente é o que será digerido por quem está lendo...
Já quanto a “Sagarana”, bom você ter lembrado, pretendo ler essa obra, logo que eu termine de me deliciar com as 561 páginas (só), de "Crime e Castigo". Quanto à lista do cantor supra citado, eu nunca fui sua fã, mas assisti ao Fantástico e se não me falha a memória, vi "Senhor dos Anéis" naquela pilha que você pegou nas mãos (sou fã do JR TOLKIEN, e de sua fabulosa imaginação), de qualquer forma, logo mais irei conferir a tal lista no site. Bom, e já que você fez questão de citar, vou pesquisar sobre a obra que você indica na analogia a "Cobras e Lagartos", se a história me parecer interessante, prometo que irei atrás do livro.
Quanto a essa sua preocupação em escrever textos longos em demasia, não mude (achei que apenas eu gostava de "encher linguiça"), escrever muito é bom, uma terapia...

Ah Zeca, tem mais uma coisa: notei que algumas pessoas andam te rotulando de "enjoadinho", de "metido a besta", de se achar superior porque tem (notadamente) mais cultura do que a maioria. Não te conheço a fundo pra saber o que dai procede, mas se realmente isso tiver um fundo de verdade, lembra-te de 2 coisas: 1) CULTURA não é sinônimo de sabedoria; 2) Num país onde educação é de nível lastimável, mais vale um ser ignorante, mas curioso em aprender, do que meia dúzia de almofadinhas, que monopolizam o que acreditam ser o conhecimento, e nisso acomodam-se a criticar os desafortunados, ao invés de tomar atitudes, como por exemplo, ter a generosidade de transmitir o pouco que se sabe (sim, o pouco, pois conhecimento não se mensura)...

domingo, outubro 08, 2006

Da vaidade (Ou da saga de Dona Jura)

Uma tarde meio nublada, do lado esquerdo da rua, era um salão, pequeno e modesto, as coisas estavam meio espalhadas (mas de uma forma estratégica), as cadeiras, de um azul com cara de enferrujado (próprio dos forros que precisam ser lavados), me deram um certo receio de estar ali sentada. Pelas paredes, folhas de revista, recortadas, coladas e descoradas, com belos modelos, que pareciam figuras em decadência, levando-se em conta o ambiente que povoavam. Comigo, eram quatro, sendo que eu só observava atentamente, enquanto duas trabalhavam e uma outra estava sentada, enquanto repartiam-lhe o cabelo. A que estava sentada era uma moça de pele morena, gordinha, mas simpática, de cabelo ruim, daqueles bem embaraçados, e havia química neles, da mais mal aplicada e ordinária que se possa imaginar (as manchas foram surgindo enquanto o secador e a escova trabalhavam duro). Era um cabelo curto, mas bastante maltratado.
E a “escova” começou. Fiquei atenta observando...A cabeleireira não teve muito trabalho com as primeiras mechas (que sempre são as da nuca e os melhores fios), mas logo senti que estava travando uma batalha com aquela cabeleira ressecada e feia. O cabelo era escuro e estava mal repleto de “luzes” mal feitas, cheias de falhas, de um loiro indefinido, apagado, vagabundo. Enquanto aquela juba era “alisada”, eu me divertia por dentro pensando comigo: “Como pode essa mulher dizer que sabe alisar um cabelo, e pior, como pode essa outra achar que vai sair daqui melhor do que entrara, se essa cabeleira rebelde insiste em mais parecer um ninho de pássaros, e quanto mais se “alisa” mais estranho fica?...”
Ato contínuo, ao pegar as mechas do meio da cabeça, o inconcebível atingiu o ápice, pois aquele cabelo era realmente o mais ressecado e ali se demonstrou, por provas, que a cabeleireira também não era das boas. Das mechas que eram secas, emanava um cheio nauseabundo de shampoo barato, daqueles que se compra aos galões, mas mesmo diante daquilo eu me divertia vendo “o circo dos horrores” representado naquela cabeça.
Sem mais delongas, a “escova” ia seguindo com bastante sacrifício, tive mesmo a impressão de que Dona Jura (a cabeleireira), por muitas vezes, pensou consigo mesma: “O que farei para amansar essa juba desgrenhada???” (e desesperada – pelas caras que fazia) . O fato é que Dona Jura não estava sabendo desempenhar as funções às quais se propunha e tive pena dela...Mas as últimas esperanças estavam sendo depositadas na “chapinha”, se ela (o verdadeiro ferro de passar e amansar cabelos) não resolvesse, podia entregar a Deus, que nada mais o faria.
Nisso, a ajudante de Dona Jura veio me atender, fazer minhas unhas, então sentei-me mais comodamente e continuei a observar.
Dona Jura já havia terminado sua batalha, e suas armas – o secador e as escovas, já descansavam ao lado, enquanto ela se munia da chapa, arma mais poderosa da qual Dona Jura poderia lançar mão. Sacou de um pente fino e começou a “passar ferro” no cabelo. Mecha por mecha, percebia-se que a rebeldia dos fios cedia um pouco, mas quanto mais seco o cabelo ficava, mas evidente era seu maltrato, a ressequidão, aquelas mechas claras e horríveis e mal feitas (era realmente feio de ver). Por fim, Dona Jura terminou, decerto, a mais dura batalha que precisou travar naquele dia – nem digo alisar, mas amansar a todo custo (e ainda com todas as limitações que se mostraram evidentes e não poderiam ser próprias de uma cabeleireira) aquela cabeça de cabelos castigados e mal cuidados. A chapinha estava pronta, o cabelo mal domado e feio – nem vou me dar ao trabalho de escolher uma melhor palavra para descrevê-lo, pois “feio” o faz bem...
Se vaidade for sair do salão pior do que houvera entrado, acho que não sou uma mulher vaidosa...