Cabe aqui um parênteses para confessar que tenho problema de astigmatismo. Caso você me encontre por ai a uma distância superior a 1m, e eu não manifeste intenção de cumprimentá-lo, fique ciente de que o fato de não ter percebido sua presença é bem próximo de certo.
O cabeleireiro de quem sou cliente – argentino desaforado – esses dias me passou um pito: “ Quase me pisa, mas não falou comigo. Metida!”
Minha mãe : “Eta, você passou por mim feito um foguete na rua e nem me viu.”
Um colega de trabalho: “Raspou em mim pela manhã e nem olhou na minha cara.”
Outro colega de trabalho: “ Ei, vê se me cumprimenta quando tropeçar comigo na rua.”
Um nutricionista muito gente boa, cuja loja de alimentos congelados costumo freqüentar: “Nossa, naquele dia tive que gritar a plenos pulmões, porque nem buzinando a valer você olhou pro lado.”
Enfim...já farta de todas essas reclamações a respeito da minha suposta indelicadeza para com todas as gentes, decidi que ia procurar ficar mais atenta, dar mais crédito àquelas fisionomias que se deparassem comigo, mesmo que borradas pela distância – superior a 1m – e, simpaticíssima, cumprimentar a todos, ainda que na dúvida.
Pois bem! Conhecem aquela história do Monteiro Lobato – um dos meus ídolos da infância – sobre o velho, o menino, e o burro? Em suma, os 3 estão indo em alguma direção quando todas as gentes passam a dar palpite sobre quem deveria ir no lombo do animal (ou não). Pois é, a moral da história ensina: o sujeito que pretende agradar a todos, acaba se danando, e comigo não haveria de ser diferente, haja vista a tal Lei de Murphy.
Vejam só, dias atrás, avistei ao largo uma mulher que muito lembrava uma amiga de minha mãe, a certeza veio em mim como o estalar de um chicote, foi daí que abri um sorriso maroto e disparei um OI, seguido do tradicional aceninho de mão. Bingo!!! A dita cuja me olhou com cara de “ué?”, toda desconfiada, com aquela feição de gente sem graça, e quando cheguei mais perto, comprovei com alma de avestruz – daqueles que enfiam a cabeça no mais profundo abismo – que eu nunca havia visto mais gorda. Tudo bem, a vida segue...
Mas, voltando à vaca fria, retornemos ao inicio desta saga, onde eu estava mesmo? Hummm...estava no momento onde a figura “familiar” encostou o carro e virou-se em minha direção, aguardando que eu fosse ao seu encontro.
Pois bem, na maior boa vontade, dei meia volta, acreditando ser o Doutor - título merecidíssimo, a propósito - Joni, amigo de longa data - uma década, mas precisamente - recém chegado de seu pós doutorado na "convidativa" Alemanha, afinal, andava com um carro de modelo parecido (isso, antes de ter partido, a meia década, no encalço do título arduamente conquistado).

Putz! Numa fração de milisegundos, juro que me veio uma sensação depressiva(pausa para um suspiro).
Tive, confesso, repulsa daquela situação. Sabe, senti-me como uma daquelas mulheres de beira de estrada que se escora nas portas de qualquer um, com a bundinha empinada feito boca de canhão. Mesmo assim, juntei forças para me desculpar por ter voltado para ter com ele, alegando acreditar ser um amigo meu.
O cara não pareceu se importar muito com minhas explicações, e continuou repetindo se poderia me conhecer, o que só aumentava o meu mal estar.
Por fim, deixei-o falando sozinho, “pedalei” com tudo, inconformada...
De agora em diante, voltarei a me passar por antipática; na dúvida, sem cumprimentos!
Tô irritada!