Há um baita tempo não escrevo! Acredito que ando meio enferrujada pra isso, consumida em demasia por coisas de ordem prática e mundana, o que deve estar me "emburrecendo". Mas agora que tirei da impulsividade a coragem de me livrar do orkut, bateu uma saudade de construir registros escritos. Propriamente, não irei escrever, apenas comentar um artigo muito oportuno que li há pouco, do JOÃO PEREIRA COUTINHO, colunista da Folha. Trata-se de um assunto recorrente, como será notado adiante. O cara narra suas impressões sobre um filme a que assistiu, é interessante: -
"E no final de tudo, o que resta para contar? Depois de breve pesquisa, descubro teorias interessantes sobre o fenômeno "Sexo e a Cidade". Todas elas sublinham o mesmo ponto: "O sexo e a cidade" representou, na tv, um grito de libertação feminina, permitindo que as mulheres pudessem falar e comportar-se como os homens. A tese é interessante e, para além de interessante, claramente contraditória.
Primeiro, ela defende que a melhor forma das mulheres se "libertarem" passa por serem tão vulgares como os mais vulgares dos homens: nas conversas e nos comportamentos. Uma mulher "liberada" é, digamos, um homem com sapatos Manolo Blahnik.
Mas a ironia maior é que não há "libertação" alguma em "O Sexo e a Cidade": assistindo intermitentemente ao filme (e relembrando as intermitências da série), só a Spice loira parece escapar aos sofrimentos típicos das fêmeas. Ela, pelo menos, é coerente, devorando macho atrás de macho sem sentimento de culpa. As restantes não se distinguem da minha bisavó, sofrendo com as inevitáveis tropelias dos homens. Elas são mulheres livres, com certeza e, no entanto, querem amarrar-se ao primeiro homem que encontram e idealizam. "O sexo e a cidade" não oferece a alegria libertadora das mulheres; oferece as lágrimas delas pelo Príncipe Encantado que, afinal, era um sapo. Não há coisa mais reacionária.
E não há coisa mais narcisista também. Porque se existe alguma originalidade em "O Sexo e a Cidade", ela não está no sexo. Está, curiosamente, no amor. Na definição de um novo e patético tipo de amor para o século 21. Não é por acaso que a narradora da história confessa recorrentemente que partiu para Nova York em busca de grifes e de amor. A intenção revela o mesmo propósito e a mesma confusão: encarar objetos, ou pessoas, como uma forma de preencher o vazio.
Admito que vestidos Vivienne Westwood possam cumprir essa função. Mas as pessoas não são objetos; e o amor é o oposto desse programa; ele não existe para nos satisfazer a nós; ele existe para lembrar que alguém é mais importante do que nós. Curiosamente, e nos últimos anos, só houve uma série televisiva com coragem para enfrentar essa verdade. Chama-se "The Mind of the Married Man". Não teve sucesso entre as massas."
Eu sempre comento com meus amigos que a idéia de liberdade e igualdade entre os sexos baseia-se na mulher copiar o comportamento masculino no que de pior ele tem. Uns me rotulam de quadrada, tradicional, e sei lá mais o que...Não me importo. Sou romântica, paciência...Por fim, não há muito o que discutir; as pessoas acreditam que liberdade é poder preencher seus vazios com rodízio, não de pizza, mas de gente. Mas esses vazios são justamente provocados pelo excesso de liberdade e de oferta. Pode-se experimentar de tudo, obter prazer e "satisfação" facilmente, o processo é semelhante a fazer um pedido no drive thru. Mas, continuo pondo á prova toda essa facilidade, porque as pessoas estão solitárias e carentes como nunca...Nasci na época errada, mas pretendo sobreviver a ela, no mínimo, mantendo a minha autenticidade e mesmo sendo piegas, ainda torcendo pelo príncipe encantado, ainda que defeituoso.