domingo, outubro 07, 2007

urosz pretovic running away

urosz pretovic running away

E o filme parecia um documentário...
Explico: - quem me conhece sabe que aprecio cinema, e que tenho preferência pelo suspense/terror (procuro na ficção as emoções das quais fujo na realidade), e evito os dramas porque normalmente, me deixam triste, pensativa, momentaneamente deprê...Recordo que um dos últimos filmes a que assisti protagonizado por crianças foi o drama “As cinzas de Ângela” e confesso que não lembro detalhes da história, mas o que me vem à mente é uma imagem de privação, pobreza, miséria e muito sofrimento. Sinceramente, não consigo entender porque as pessoas continuam a gerar crianças quando é certo que seu (das crianças) sofrimento será inevitável. Fico revoltada mesmo!!! Aproveitando o gancho, não custa lembrar do caso recente da mãe que jogou a pequena Michelle no rio que corre logo atrás de sua casa, semana passada. Segundo os médicos, a principal causa do óbito foi um edema cerebral em decorrência da falta de oxigenação. A menina teria ficado mais de cinco minutos sem respirar quando foi jogada na água. Os médicos disseram também que ela teve infecção generalizada, devido ao contato direto com a poluição.
Hoje, eu abro um site de noticias e em destaque vejo: - “Bebê é deixado na porta de uma casa em Minas Gerais.” E me pergunto: “O que acontece?” Será que é tão difícil assim poupar inocentes de virem ao mundo quando os pais não têm a mínima estrutura, seja psicológica ou financeira para criá-los? Não vou entrar em detalhe sobre o contingente de menores que sobrevivem à margem da sociedade, e que tipo de produto (ou sub-produto) dessa mesma sociedade eles tornar-se-ão, mas tenho pra mim, que pra ter filho deveria haver uma burocracia, seria preciso pedir permissão, fazer registro, assim como um porte de arma. E falo sério!! No mínimo, os pais deveriam passar por um rigoroso exame psicológico, e sua condição financeira deveria ser analisada a fundo antes da obtenção da autorização de paternidade. Claro, a condição financeira poderia ser relegada a segundo plano, provada fosse a sólida base dos pretendentes à paternidade, e seu firme desejo de fabricar, educar e manter a sua cria.
Como sempre, eu acabo escrevendo demais, e ocupada em rodeios, vou esquecendo meu tema principal, o filme que assisti. Peguei por indicação, e gostei bastante. Trata-se de um filme que mais parece um documentário, pois embora ficção, retrata tão friamente a realidade que teimamos em fazer de conta que ali não existe. Na verdade, são pequenos curtas, 7 no total, que juntos, formam “Crianças Invisíveis”.
É o seguinte, a primeira história vem do continente africano, onde crianças lidam com as armas e a morte desde cedo, sem muitas perspectivas, apenas tentando sobreviver (gostei muito desse).
A segunda história, com aquele sotaque russo, é proveniente das bandas de Sérvia e Montenegro. Ali se retrata a vida dos jovens infratores no reformatório, e confesso que foi uma das histórias que mais gostei, mistura humor com a dura realidade de um menino (aquele do vídeo logo acima). O pequeno, delinqüente contumaz, está prestes a ganhar a liberdade, mas receoso, pois se sente acolhido e seguro naquele ambiente, ao passo que lá fora o espera um pai beberrão e violento, que o obriga a furtar contrariado. Na cena do vídeo, ele é surpreendido ao praticar um furto, e parece que de forma quase automática, acaba caindo pra dentro dos muros do reformatório novamente (palmas pro peru!)
Em seguida, a história de uma menina americana cujos pais são viciados, soro-positivos e decadentes. Blanca, filha de negros, é discriminada na escola por ser aidética e ridicularizada pela condição dos pais. Logo atrás, o Brasil é representado por uma dupla de crianças que percorre as ruas de São Paulo recolhendo toda sorte de produtos que possam ser negociados em troca de uns caraminguás. Triste saber que em nosso próprio quintal a realidade é tão dura com os pequenos, que literalmente “se viram nos 30”. Mas, apesar de toda a dureza, ponto positivo pra capacidade de improvisar do brasileiro, sempre esperto e malandro, sempre mantendo a esperança e o bom humor, mesmo diante das adversidades. Saltamos do Brasil para a Inglaterra e dessa historinha eu não gostei, um fotógrafo que revive a sua infância, refugia-se nela quando atormentado por seus fantasmas do presente. Depois vamos à Itália, e conhecemos Ciro, um menino cujo lar é desestruturado, e que rouba nas ruas da cidade. Para fechar com chave de ouro John Woo confronta a realidade de 2 garotinhas praticamente da mesma idade, na China, de condições sociais distintas. Sempre se comenta sobre a sensibilidade dos chineses, de como eles conseguem imprimir poesia em suas obras. E confesso que tive que segurar uma lágrima que estava prestes a me escorrer. Tão triste aquele final, tanto quanto a realidade dessas crianças que o mundo produz e não tem capacidade de tornar cidadãos, esses órfãos, nem sempre de pais, mas às vezes de carinho, de atenção, afeto, educação, órfãos de um lugar no mundo, órfãos de sua própria infância...Assisti e recomendo!

Aqui se você se comportar você pode fazer o que quiser, pelo tempo que quiser, e pode parar quando quiser, mas lá fora, você não pode parar quando quiser.”